Flores Comestíveis: “Alimentos não Convencionais”
É bem provável que seja uma unanimidade achar que as flores são de uma beleza tal que só poderiam ter sido criadas por mão divina. E ao que tudo indica, foi no terceiro dia que Deus criou as flores, quando disse: "Cubra-se a terra de vegetação.”
Mas ao contrário do que muitos pensam, as flores não são apenas bonitas e servem para enfeitar ou fornecer aromas, o que já seria muita coisa.
Mas muitas são também alimentos. No Brasil temos um sem número de flores, folhas e raízes, que podem ser encontrados em quintais, jardins, canteiros e ruas e não sabemos que são comestíveis.
Muitas já são consumidas em algumas regiões e desconhecidas em outras. Muitas foram esquecidas, cairam em desuso ou foram consideradas ervas “daninhas”, mato… “Entre as principais razões do abandono gradual desses alimentos estão as transformações oriundas da urbanização, da industrialização, do desenvolvimento de tecnologias, da expansão da indústria de alimentos, da difusão da mídia e do discurso científico, que afetam de forma diferenciada os grupos sociais de acordo com sua história e aprendizagem (ROTENBERG, 2012)”.
Nos últimos tempos, algumas destas flores passaram a fazer parte dos pratos de chefs renomados, como o amor-perfeito, a cravina e a deliciosa capuchinha.
Para quem tiver interesse em conhecer esse tesouro, vale a pena adquirir o livro “Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil", de Valdely Kinupp e Harri Lorenzi. Este livro é resultado de 10 anos de trabalho e pesquisa. Cada planta é apresentada em 2 páginas, uma com as características morfológicas e a outra com 3 receitas. Sempre com bastante fotos facilitando a identificação delas. Nele podemos nos informar sobre o uso das flores e das demais partes das plantas, como é o caso da Vinagreira (Hibisco, rosela, groselha, caruru-azedo, quiabo azedo), cujos cálices florais soltos são famosos em chás, mas também podem ser utilizados em receitas de pães, por exemplo.
Também muito bacana, o livro "Entre o Jardim e a Horta - As Flores que vão para a Mesa", de Gil Felippe. Neste livro, o autor "separa as flores comestíveis em quatro categorias: as que se consomem todo dia (como couve-flor, brócolis e alcachofra); as que se consomem, mas não todo dia; as que se consomem como ervas aromáticas; e as que se consomem como decoração, para tornar mais bonitos os pratos."
E aqui, encontramos a Vinagreira outra vez. Sua história pela gastronomia mundial e uma receita: Chutney de Vinagreira.
E da mesma forma, todas as outras citações de flores com histórias e receitas de dar água na boca.
Em abril/2015, o Ministério da Saúde lançou um livro que tem como principal objetivo estimular a população para o consumo de uma alimentação saudável capaz de promover saúde e mais qualidade de vida, reduzindo a obesidade, diabetes, hipertensão e outras doenças. Muito boa e útil a leitura que, "além de orientar sobre o tipo de alimento (características e uso culinário), traz informações de como comer e preparar a refeição, uma lista de possíveis substituições para as preparações desenvolvidas, ressaltando a diversidade cultural brasileira. A intenção é proporcionar a população o conhecimento das mais variadas espécies de frutas, hortaliças, leguminosas, tubérculos, cereais, ervas, entre outros existentes no país.” http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/cidadao/principal/agencia-saude/17300-ms-lanca-livro-que-estimula-o-consumo-de-alimentos-saudaveis
Nele, a Vinagreira aparece destacando a utilização das folhas, como por exemplo no arroz de cuxá, um prato típico do Maranhão, feito com arroz, camarão seco, folhas da vinagreira e condimentos.
A partir do portal do Ministério da Saúde é possível baixar, gratuitamente, a versão digital tanto do livro "Alimentos Regionais Brasileiros"como do "Guia Para Uma Alimentação Saudável".
Muitas flores, no entanto, são tóxicas, por isso, consuma apenas aquelas que você verificou serem comestíveis.
Em alguns casos, o que é possível comer são apenas algumas partes.
E muito importante também é ficar claro que as flores utilizadas na alimentação não são essas vendidas em floriculturas ou gardens centers, pois são tratadas com produtos químicos que podem trazer sérios danos para a saúde. Flores comestíveis devem ser adquiridas de produtores especializados, que não utilizam qualquer tipo de agrotóxico ou tratamento químico em seu cultivo.
A melhor forma de ter flores comestíveis é cultivá-las em casa. Além do prazer de plantar as próprias flores, se tem a certeza de estar consumindo um produto livre de produtos químicos!